ESTABILIDADE SEM CRESCIMENTO.
A
estabilidade macroeconômica, que é a quarta categoria de variáveis importante
para o crescimento, o relatório deu ênfase à estabilidade dos preços. Segundo o
estudo, a volatilidade macroeconômica e a imprevisibilidade devem ser evitadas,
haja vista os efeitos prejudiciais ao investimento privado. Sendo assim, as
políticas monetária e fiscal precisam atuar conjuntamente, buscando atingir os
objetivos traçados e seguindo regras para que as variáveis-chave não fujam do
controle.(R. M. DURLO e outros. Determinantes do Crescimento Econômico. S/d)
O
relatório a qual o autor refere-se, é o relatório do Banco Mundial intitulado: The
Growth Report: Strategies for sustained growth and inclusive development,
publicado no ano de 2008.
Quanto
as varáveis relevantes, importa esclarecer que elas são tipificadas em
variáveis de condição e variáveis de dinamismo, a saber: as primeiras são as
taxas de juros, de inflação, eficiência marginal do capital e qualidade das
instituições; enquanto as variáveis de dinamismo são os investimentos,
infraestrutura logística, energética, ambiental, níveis da PEA ou força de
trabalho, produtividade e acumulação de capital.
Postos
estes detalhes, vale dizer que a estabilidade relativa alcançada com o Plano
Real foi atropelada pela crítica, que apontavam o desemprego, juros altos,
câmbio valorizado, depois apreciado, reformas e privatizações, como consequências
daquela política econômica.
Isso
foi uma meia verdade que foi imposta como verdade científica.
Como
assevera A. C. PASTORE. Inflação e crises. 2015, a reforma monetária não foi o
final do plano de estabilização, e sim o seu começo, criando a condição
necessária para o controle da inflação. Ela havia eliminado a indeterminação
das taxas de inflação, derivada da combinação da indexação com a passividade
monetária. Contudo, para prender o nível de preços, era necessária a criação de
uma âncora nominal, à época, optou-se pela âncora cambial administrada.
O
fato estilizado a respeito das medidas do Plano Real foi que a utilização das
variáveis críticas e criticadas, conforme descritas acima, efetivamente, foram
estratégias de manter o Plano vivo, tentando criar e ganhar tempo para efetivação
das reformas, de outrora recomendadas: trabalhista, previdenciária, tributária,
administrativa, orçamentária, política, judiciária, liberalização de
importações, reforma financeira, abertura conta de capital e privatizações,
juntamente a âncora nominal cambial e taxas de juros elevadas, que
potencializariam as expectativas racionais e adaptativas, rumo à estabilização
econômica, i.é., para além dos níveis gerais
de preços.
Esclareça-se,
que nem todas as reformas mencionadas anteriormente eram parte do plano Real,
porém, como as reformas financeira, abertura de capital e privatizações não
tiveram o apoio necessário, as válvulas de escape foram as taxas de juros
elevadas e taxa cambial valorizada, supostamente, temporárias e de curto prazo.
As
reformas importam muito, pois, elas, proporcionarão, também, estabilidade
institucional, para tanto, urge pensar e criar, também, um plano de reformas
institucionais, incluindo, estados e municípios.
No
entanto, como tudo termina na política, há que se elevar o nível da mesma, mesmo
porque, tem gente que acredita que na política vale tudo, daí, que nunca
alcançamos objetivos mais republicanos e duradouros, que, geralmente, resultam
em estabilidade sem crescimento robusto e sustentável.
Conforme
historiógrafa H. F. LIMA (1976), o pensamento e as ideias econômicas no Brasil
são marcadas por controvérsias em torno do liberalismo e intervencionismo,
sendo este último caracterizado pelo processo de substituição de importações,
tendo o estado brasileiro como agente da industrialização e promotor efetivo das
substituições de importações. Como dizia meu estimado professor David Ferreira
Carvalho, da UFPA/NAEA, foi o estado agindo por cima do mercado.
Deu
certo? O emérito professor Delfim Netto (1996, 2014, 2015) tem dúvidas, ao
indagar com ceticismo, se deveríamos ter financiado a industrialização forçada
ou a infraestrutura em geral.
É
por isso, apesar dos pesares, tenho a convicção de que o liberalismo cauteloso
da atualidade (que não significa ausência de Estado) será a melhor vacina
econômica para superarmos o trabuco inflacionário em riste, que alguns já estão
chamando, erroneamente, de inflação inercial, e o conservadorismo político e
econômico retrógrados, quer de direita quer de esquerda.
Portanto,
o esforço da política monetária há de ser moderado e flexível, devido aos
últimos anos de baixo crescimento econômico e a "pandecrise" (A. M.
M. FARIA, 2019) catastrófica, em sintonia fina com responsabilidade fiscal
continuada, em contraposição à contabilidade destrutiva, desrespeito as regras
de ouro do orçamento e o tal orçamento impositivo, conforme orientações e
recomendações de E. BACHA, 2016. In: Finanças Públicas - Da contabilidade
criativa ao resgate da credibilidade.
Sem
uma simbiose dinâmica entre política fiscal e monetária, não haverá
estabilidade e nem crescimento duradouros, pois, parafraseando L. FLAUZINO. Conversas
virtuais escritas. 2021, (que agradeço pelas críticas da primeira versão deste
retalho econômico), o crescimento econômico de longo prazo tem relações com a
taxa de câmbio que pode interferir na taxa de crescimento, conforme testes empíricos
existentes e em execução, que avaliam os efeitos dos repasses cambiais nos
preços de bens e serviços (exportáveis e não-exportáveis) e na aquisição de tecnologias,
e nas taxas de crescimento de determinado país.
Um
excelente exercício científico para esta questão seria avaliar comparativa e
empiricamente as taxas de câmbio do Brasil e da China e seus efeitos sobre o
crescimento econômico, em periodização a ser estabelecida.
Finalizo
com a frase do meu saudoso orientador e professor de mestrado Dr. Mário Amin: "tudo que se fecha se degrada".
A propósito, ver URSS, Cuba, Venezuela, Argentina, mais recentemente. Cuidado,
Brasil.
E
é só.
Ernani Lúcio Pinto
de Souza, 58, economista da Ufmt, especialista em DRH pelo Programa Mec/Bid
III/Ufmt/Ufal e mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Naea/Ufpa/Anpec.
Foi vice-presidente do Corecon-Mt
(elpz@uol.com..br)

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