ÓDIO DO BEM E O MANIFESTO A FAVOR DA MORTE DO PRESIDENTE.
Jose Roberto Guzzo, para A GAZETA DO POVO.
Eis aí, enfim: de ódio em ódio, e com o empenho cada vez
maior da elite intelectual brasileira na tarefa de selecionar tipos diferentes
de ódio, os maus e os bons, chegamos ao topo do pódio. Embora a prudência
ensine que não há limite para o pior, vai ser difícil ir muito mais longe do
que o ponto em que acabamos de chegar: num artigo publicado em jornal, o autor
diz que quer que o presidente da República morra de Covid-19.
É a medalha de ouro, até agora, em matéria de ódio do
bem. Seu alvo é o presidente Jair Bolsonaro – e odiar Bolsonaro, no Brasil bem
pensante de hoje, é lutar em defesa dos valores democráticos, da inclusão
social, da igualdade e, no fim das contas, da salvação da pátria. Uma salva de
palmas, portanto, para esse manifesto em favor da morte, do fundo do coração
civilizado, liberal e moderno do Brasil 2021.
Cada um, naturalmente, tem o direito de dizer em público
o que quer. Desejar a morte do próximo, desde que o dono do desejo fique só
nisso, não é proibido por lei – ao contrário, é um direito estabelecido pelo
artigo 5º da Constituição Federal brasileira, que assegura a todos a plena
liberdade de expressão.
O único problema neste caso – mas aí já é realmente um
problema de 400 talheres – é que no Brasil onde se construiu a doutrina do ódio
do bem o cidadão tem o direito de escrever que deseja a morte do presidente,
mas não pode desejar a morte dos seus atuais inimigos políticos, pelo menos nas
“redes sociais”. Experimente, para ver o que acontece, escrever que você quer
que o ministro Alexandre de Moraes, por exemplo, caia morto. Melhor não.
Para começar, o ministro vai mandar a Polícia Federal à
sua casa, às 6 horas da manhã, e você será trancado numa cela de prisão. Essa
prisão poderá ser prorrogada por um número indefinido de vezes. Os seus
advogados não terão acesso à totalidade dos autos – só vão poder ler o que o
ministro Moraes deixar. Você pode ser proibido de trabalhar como jornalista, e
o seu site pode ser banido pelos operadores das redes de comunicação na
internet. No caso de ser funcionário de alguma empresa dedicada à defesa da
democracia, à luta contra o racismo e à manutenção do “distanciamento social”,
vai perder o seu emprego.
O Brasil que cultiva o ódio do bem não é apenas
moralmente absurdo. É uma aberração do ponto de vista legal — a lei, pelo menos
enquanto o atual presidente continuar no governo, é oficialmente desigual.
Depende, para proteger e para punir, da sua posição política."

Nenhum comentário:
Postar um comentário