COMO SE NÃO TIVESSE HAVIDO ELEIÇÃO EM 2018.
(*) Por Percival Puginna.
Quando ganharam nitidez os movimentos para derrubar o
presidente Bolsonaro mediante iniciativas conjugadas no Congresso e no Supremo,
vieram-me à lembrança episódios de nossa história política nos quais o
presidente da República, a exemplo de Bolsonaro, não conseguiu compor maioria
parlamentar. Tais casos terminaram sempre em encrenca: Getúlio, Jango, Collor,
Dilma, Temer. Os quatro primeiros não concluíram o mandato. O último, não
conseguiu governar. Para aí pretendem conduzir Bolsonaro com o intuito de lhe
passar a tesoura no calendário. Observe que o governo vai bem nas áreas
técnicas, mas onde a pauta é política e ideológica seus passos são travados, ou
no Congresso, ou no STF, para que fique tudo como se não tivesse havido eleição
em 2018.
A busca, na vida do presidente, de algum crime no qual ele não
seja a vítima está a exigir um esforço extraordinário dos grandes meios de
comunicação. O jornalismo investigativo, que passou décadas com cão-guia e
bengalinha de cego, de repente soltou seus melhores farejadores em busca da
notícia de um milhão de dólares.
Quando Sérgio Moro fez sua melancólica saída
de cena, houve leitores (muito poucos, diga-se a bem da verdade) que se
surpreenderam por não me verem fazendo live com Zé Dirceu, ou entrando na
Paulista com aqueles black blocs tão espalhafatosamente
"comprometidos" com a democracia. Na ocasião escrevi um artigo
examinando a infindável e invasiva devassa, na qual são pesquisadas até mesmo
recônditas intenções imputáveis ao presidente (com quem, aliás, não tenho
qualquer relação pessoal). Afirmei que, conhecendo como conheço as forças que
se erguem contra ele, e o motivo pelo qual o fazem, será necessário apresentar
à mesa bem mais do que um par de dois. Em outras palavras, não me venham com
blefe. Sim, o presidente se aproximou e conversa com o Centrão. E isso é muito
ruim. Mas é produto natural de um modelo político que obriga o eleito para
funções de governo a buscar maioria parlamentar com um revólver encostado na
cabeça. Queriam o quê, os nobres cavalheiros? Que o presidente não lidasse com
o Centrão – bem que ele tentou –, tivesse suas propostas reiteradamente
desaprovadas, se mantivesse sob risco de um impeachment, se deixasse orientar
pela visão de mundo dos ministros do STF e da mídia que o ataca? Ou, então, que
se aproximasse da tropa de choque do PT, PSOL, PCdoB, Rede, PDT e outros que
tais para aí buscar apoios? Fala sério!
Diferentemente do que querem fazer crer as forças agindo contra a
Presidência, elas não se mobilizam por qualquer valor ou princípio moral
significativo. Não! Perderam a eleição para uma pauta conservadora e liberal,
antagônica à geleia ideológica, psicológica, sociológica, filosófica, e o que
mais você queira incluir no catálogo de nossos males de então. Perderam a
eleição para um discurso de cadeia para bandido, proteção da família e da
inocência das crianças, da ordem, do amor à pátria, do combate à corrupção, mas
obtiveram folgadas maiorias para legislar no sentido inverso, cuidando dos
próprios dedos e anéis.
Querem ouvir discurso de ódio? Ouçam os ministros do STF quando se
referem à agenda conservadora... Enchem a boca com a palavra democracia, mas se
recusam a ouvir a cidadania! O que lhes garante o poder não é a democracia, mas
a Constituição. É o Estado de Direito, esse mesmo, nosso, ambíguo, disforme,
que permite ao STF a atual composição dominantemente petista, purgada das
canetas de Lula, Dilma e Temer. Democracia? Quem se importa com democracia se
interessa pelo que o povo escreveu nas urnas.
A reação da sociedade que diverge e se incomoda com esse cenário é
natural, autoexplicativa. Moderar-lhe a palavra é tarefa impossível e pretensão
absurda. Daí à censura é um passo de dedo. Por isso, enquanto o STF prende e
intimida jornalistas e o Senado aprova sua lei de censura, a democracia vai
para o brejo levada pelas instituições criadas para protege-la.
(*) Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
(*) Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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