segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

 A queda das barricadas no Rio de Janeiro.



Em apenas uma semana, o governo do Rio de Janeiro eliminou 1.800 toneladas de obstáculos usados por facções criminosas para construção de barricadas nas favelas da capital fluminense e cidades vizinhas.

A operação “Barricada Zero” tem como objetivo remover mais de 13 mil desses verdadeiros muros medievais erguidas por grupos como o Comando Vermelho para se proteger da polícia, transformando as comunidades em áreas com leis paralelas controladas pelo crime organizado.

A ação, que restabelece o direito constitucional de ir e vir dos moradores e permite o acesso de agentes públicas, utiliza equipamentos especiais para derrubar as estruturas, como rompedores hidráulicos e retroescavadeiras.

O governador Cláudio Castro anunciou que contará com uma força-tarefa para impedir a reimplantação dessas barreiras.

A proliferação das barricadas no Rio é resultado de uma liminar do ministro Edson Fachin no âmbito da chamada “ADPF das Favelas”, que restringiu ações policiais para reduzir sua letalidade, mas acabou fortalecendo o controle das facções e ampliando o poder paralelo nas comunidades, um crime institucional hediondo contra a segurança pública e a própria democracia.

Fernão Lara Mesquita.



terça-feira, 18 de novembro de 2025

 Demanda Agregada.


 Por Ernani L. Pinto de Souza

As discussões teórico-efetivas a respeito da demanda agregada remontam aos primeiros opositores e apoiadores da Lei de Say, a exemplo de Malthus, Sismondi, Ricardo, dentre outros. (MIGLIOLLI, (1981); BRESSER-PEREIRA, (1985); OLIVERIA, (2009); CARVALHO, (2014)).

A Lei de Say, Lei dos Mercados ou Lei de Preservação do Poder de Compra, ficou assim conhecida em homenagem ao economista francês Jean-Baptista Say (1767- 1832) que afirmava que a estabilidade e regularidade do mercado decorria do dinamismo do investimento, que, ao gerar renda entre os vários setores da economia, proporcionaria o consumo materializado na procura propriamente dita. Em reforço e validação da mencionada Lei, David Ricardo, apud, David F. Carvalho, (2014), é enfático ao argumentar que Say mostrou, de maneira mais satisfatória, que não há nenhum montante de capital que não possa ser empregado em um país, porque a procura é somente limitada pela produção. Ninguém produz a não ser para consumir e vender, e jamais se efetua uma venda a não ser com a intenção de comprar qualquer outra mercadoria que possa ser imediatamente utilizada ou possa contribuir para a produção futura.

O argumento é poderoso e instigante se observado sob a égide da neutralidade da moeda, isto é, esta não impacta as decisões dos agentes econômicos por ser apenas um meio de troca sob o império de uma economia de escambo (trocas diretas de mercadorias) e/ou mercantil simples (troca de mercadorias intermediada pelo dinheiro M-D-M), diferentemente de uma economia monetária da produção, complexamente capitalista e elevadamente monetizada (D-M-D'), ou ainda, (D-D’). Nesse sentido, economistas como Malthus, Marx, Kalecki e Keynes não aceitam a aplicabilidade da Lei de Say para uma economia capitalista, porque esta pode se encontrar numa situação de superprodução ou sub-produção geral, o que implica em flutuações cíclicas com base na ideia, comum aos economistas mencionados, de insuficiência de demanda efetiva, um outro conceito de demanda tão importante quanto ao de demanda agregada.

Efetivamente, este é o ponto de intersecção e inflexão da problemática em torno da Lei dos Mercados, mesmo porque, demanda efetiva é o resultado do consumo e do investimento previstos e programados (ex-ante), porém, se haverá demanda realizada (ex-post) será uma dependência da renda e/ou do poder de compra na forma em que serão gastos ou utilizados, o que para Macedo e Silva, (1990), torna aquela lei limitada e restrita, devido a crença de que só a renda gera poder de compra, e o poder de compra é necessariamente gasto.

Nesse debate histórico-evolutivo, toma corpo o princípio da demanda efetiva, onde Kalecki e Keynes se destacam. Kalecki, (1982), a seu modo, tendo discutido, também, as crises de realização dos investimentos, formula o princípio da demanda efetiva, quando afirma que os trabalhadores gastam o que ganham, e os capitalistas ganham o que gastam.

Bem assim, Keynes, (1983), aprofundando sofisticadamene no debate, asseverava que o volume de mão-de-obra que os empresários decidem empregar depende da demanda efetiva resultante da soma de dois tipos de gastos esperados quando os empresários decidem investir, a saber: 1- do montante em valor monetário que se espera que seja gasto pela comunidade (e não somente pelos capitalistas, assim como pretendia Kalecki) na compra de bens de consumo; 2- do montante em valor monetário que se espera que seja aplicado em novos investimentos, e os gastos públicos seriam algo suplementar e complementar à demanda agregada em momentos, também, de crises.

Nesse sentido, o funcionamento de qualquer economia depende desses dois tipos de gasto, que, suposta e teoricamente, permanecerá em equilíbrio "keynesiano" - “nível de emprego efetivo inferior ao pleno emprego.” (Carvalho, 2014).

Do fundamento teórico até aqui utilizado, aliás, nada mais prático do que uma boa teoria diante dos problemas reais e concretos, cabe-nos trilhar para o campo prático- aplicado, apoiando-nos em dados divulgados sobre a economia brasileira que apontam para taxas de desemprego próximas a 5%, inflação baixa, renda crescendo, crédito ampliando, etc.

A relação disso tudo com a demanda agregada refere-se ao fato de que ela é composta pelo consumo das famílias e dos governos mais o investimento autônomo (demanda efetiva) quando acrescidos os gastos do governo e finalmente as exportações líquidas (demanda agregada), isto é, exportações menos importações, o que caracteriza, também, uma economia aberta que transaciona com o resto do mundo.

Em análise parcial, deduz-se que os componentes da demanda agregada são altamente dependentes da formação bruta de capital fixo - investimentos produtivos, todavia, segundo dizem, a despoupança pública (déficit público recorrente) e a baixa capacidade de investimento do setor público e privado, em torno de 16% do PIB

(Dados de 2024, IBGE), tem proporcionado taxas de crescimento e aquecimento da demanda agregada aquém da necessidade efetiva do país.

Sendo assim, o que pode estimular ainda mais a demanda agregada e avancemos para níveis de renda mais elevados?

Sem dúvida, fundamental que haja taxas de juros atrativas compatíveis com a taxa de inflação e taxas de retorno do capital investido, além de renda disponível realizável, que proporcione poupanças pública e privada, que por sua vez, estimule mais créditos, com níveis de tributação reduzidos, neutros e universalizados (que todos paguem de maneira direta como foi com a CPMF, no entanto, carimbe-se essa arrecadação para fins estritamente coletivos).

Por isso, importa que avancemos nas reformas, vantagens institucionais, abertura  da economia  e privatizações, até porque, não é função do Estado agir em atividades empresariais; e, talvez, essa ação que o Brasil optou em “agir por cima do mercado” em setores ditos estratégicos tenha sido algo positivo para época, todavia, que o diga nossa infraestrutura e a nossa própria demanda agregada, corroídas, também, pela economia subterrânea e pelas mazelas da corrupção.

Economista do EIT/UFMT (ernani.souza@ufmt.br)





quarta-feira, 1 de outubro de 2025

 PRIVATIZAÇÕES AUTOINCLUSIVAS


Um estado republicano, democrático e racional (este último, nos termos de M. WEBER, In., M. A. MALISKA, 2006), não há de confundir a função de moldar com a de administrar a natureza humana. Na tentativa de administrar, termina por confundir-se com um estado paternalista, clientelista e totalizante (J. P. COUTINHO, 2025). 

Assim, as funções do estado e do mercado são claras: ao estado cabem as funções sociais; ao mercado, as funções econômicas. Aliás, a melhor função social do mercado é pagar bons salários e pagar tributos.

Prudente dizer que isso não significa que estado e mercado que ocupem o mesmo espaço territorial devam agir de maneira divergente ou dissociada. Portanto, em primeira conclusão, não se intenciona aqui, elevar este ou aquele ente institucional melhor do que outro ou mais relevante no processo de desenvolvimento. A propósito, recomenda-se, a boa literatura da temática, um desenvolvimento associado.

No caso brasileiro, conseguimos diversificar nossa economia em razão da forte atuação do estado nacional juntamente ao capital privado nacional e multinacionais. Foi uma estratégia econômica de longo prazo, década de 70 e 80, basicamente, mais que remonta as décadas de 30 e 50 com os ex-presidentes GV e JK.

Relevante mencionar que foram criadas muitas estatais durante esse processo, principalmente, nos setores de indústrias de base e pesadas, que teve um custo elevado para o próprio estado e a sociedade, questão que o finado professor Delfim Neto qualificou como um tipo de trade-off no processo do desenvolvimento brasileiro, isto é, caberia ao estado agir em torno da industrialização ou da infraestrutura?

Em segunda conclusão, vale, também, indagar se ainda importa o Brasil continuar atuando em funções econômicas (várias estatais), sabendo que o mercado já tem condições de efetuar essas funções ditas estratégicas? (não confundir estratégias bélicas com estratégias econômicas, e mais, com estratégias sociais)

É sensato relembrar e repensar o quão importante foram as privatizações durante o mandato do ex-presidente FHC, que proporcionou, sem dúvida, uma autoinclusão no consumo devido a ampliação da renda resultante dos novos investimentos privados, mesmo sob a dominância tributária em riste.

Vale ponderar, que existe uma confusão ingênua e desnecessária que reina nos holofotes da grande mídia revanchista e oportunista e nos ninhos do conhecimento sobre o que sejam abertura econômica, livre-comércio e privatizações, e isso tem contribuído para que o nosso atraso e retardo econômicos continuem na proa e na popa do desenvolvimento brasileiro.

Em última conclusão e nos finalmente, ao estado brasileiro caberá conservar a democracia, liberalizar contra a desigualdade e revolucionar sobre as imposições estatizantes e totalizantes, criando ambientes institucionais saudáveis e confiáveis para dar impulso sustentável à autoinclusão e à iniciativa empresarial inovadora, sem abandonar, obviamente, suas funções básicas, estratégicas (no sentido econômico como já dito anteriormente) e difusas (aquelas que importam os benefícios em contraponto a viabilidade econômica que rege o setor privado).

O bem-comum repousa no esforço de cada um. (J. M. KEYNES, 1926), ou também, qualidade de vida resulta do esforço coletivo. (E. L. PINTO DE SOUZA, 2025).

Ernani L. Pinto de Souza é economista do EIT/UFMT. (ernani.souza@ufmt.br)

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

  A polarização que nos atrasa

 

Em 1964, o Brasil mergulhou em um período de profunda divisão. A mudança do regime, em 31 de março, cristalizou uma polarização ideológica que, de certa forma, molda a nossa sociedade até hoje. Cinquenta anos depois, ainda vemos o eco desses conflitos, com a sociedade brasileira fraturada entre extremos. A partir da década de 1980, tendo como protagonistas, o PSDB e o PT., a polarização aumentou. A entrada de Bolsonaro na Presidência da República, acabou por aprofundar, ainda mais, essa divisão do “nós” contra “eles”

É hora de reconhecermos que essa polarização nos aprisiona no passado. Enquanto passamos tempo debatendo rivalidades antigas, deixamos de lado a construção do futuro. Nosso país enfrenta desafios complexos que exigem cooperação, não confrontação. Precisamos de um novo olhar, um que nos permita ir além das trincheiras ideológicas e nos concentrar em pautas que realmente importam.  Como discutir, por exemplo, o significativo aumento do número de ministérios, para beneficiar os companheiros.  Afinal, o governo operava com 22 ministérios, no período de 2018 a 2022, apresentando uma redução de 10,5% nos gastos. Temos agora 39 ministérios e o custo total para o ano de 2024 foi de R$ 370,6 bilhões.

Em vez de discutirmos quem é "direita" ou "esquerda", por que não focamos em como podemos criar um país mais justo, equitativo e próspero para todos? Que tal unirmos esforços para combater a desigualdade social que ainda assola nosso país? E se todos, independentemente de suas convicções políticas, pudéssemos trabalhar juntos para fortalecer a nossa democracia?

A busca por desenvolvimento, justiça e igualdade não deve ser um tema de disputa, mas sim um objetivo compartilhado por toda a nação. A história nos mostrou que a divisão só nos leva para trás. Para avançarmos, precisamos de diálogo, tolerância e, acima de tudo, a capacidade de reconhecer que nossas diferenças ideológicas não podem ser maiores do que nosso compromisso com o bem-estar coletivo.

É hora de virarmos a página de 1964 e construirmos um novo capítulo, onde o consenso sobre o progresso e a justiça social seja a nossa principal bandeira. A polarização pode nos dar a sensação de pertencimento, mas a união é o que nos tornará verdadeiramente grandes.

Vicente Lino


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

TRUMPULÊNCIA: OPORTUNIDADE PARA O BRASIL REDISTRIBUIR RENDA E RIQUEZA.

Por: Ernani L. P. de Souza.


O termo trumpulência foi cunhado pelo economista, sociólogo e diplomata brasileiro Marcos Troyjo, momento em que ele aponta em seu artigo que o termo significa um híbrido de opulência, exuberância e turbulência vindas dos EUA.
A opulência e exuberância estão lá, para cá, cada vez mais, a turbulência, materializada na guerra comercial
; a outra, política, abstenho-me, por hora.

Se o Brasil é tido como uma economia fechada devido a barreiras tarifárias e não-tarifárias, que impacta uma corrente de comércio mundial em menos de 2%, significa, então, indagar por quê perdemos as oportunidades de nos inserirmos no comércio internacional com mais veemência, assim como fizeram Japão (lá na década de 70), Coréia do Sul, China, México, etc.?
Produtividade, qualidade e instituições voltadas para o conhecimento produtivo, que é global, ficamos presos no espírito nacional, que todos almejam,
porém, sem determinação nacional.
Portanto, negociemos com inteligência e pragmatismo, tendo como moeda de poder nossos setores produtivos de interesses demonstrados pelos EUA
e carentes por nós, como, saúde, energia e teles, dentre outros.
Isso será uma grande oportunidade para redistribuirmos riqueza e renda,
e fortalecer as correntes de exportações e importações de bens intermediários, preservando nossas vantagens relativas reveladas e avançando em nossas vantagens institucionais.

A respeito disso, vale dizer que as instituições multilaterais de fomento e financiamento e combate a pobreza (BIRD), de monitoramento monetário-financeiro (FMI), de estímulo e ordenamento do comércio internacional (OMC), e ainda, de combate a fome e segurança alimentar (FAO) estão sob ameaças decorrentes da truculência e turbulência provocadas pelas medidas e ações vindas do presidente norte-americano ante suas dúvidas sobre possíveis ameaças à hegemonia dos EUA e aliados leais, orquestradas por ideologias (que espelham/retratam apenas parte do real, conforme ensinou o ex-presidente e professor Fernando Henrique, 1993) desalinhadas com o acordado no pós-guerra. Esse é, parece-me, o lado político-prático de toda essa investida norte-americana.

O atual presidente dos EUA está se comportando como um ditador? Talvez, mas com tantos ditadores mundo a fora, a moda pode pegar, inclusive, a ditadura reativa.
No que isso tudo vai dar, ainda, é cedo para prever, mas, que, poderá tanto conduzir a uma nova prosperidade ou a uma grande d
ebacle.

O Brasil pode amenizar isso tudo olhando para seu mercado doméstico devido a uma maior oferta excedente de produtos, o que poderá, também, acelerar a desaceleração inflacionária, - hoje, fora da meta anual prevista de 3% -, que desencadeará um aumento no fluxo de consumo, renda e arrecadação, sem esquecermos, obviamente, pela prospecção de novos mercados e negociação setorizada com os EUA, que possuem um mercado consumidor efetivo enorme.

No meu modesto raciocínio, quero pensar que o consumo reprimido no Brasil seja maior que a corrente de comércio atual do país que é de menos de 2% em transações com o resto do mundo. Essa condição está me levando a especular que não se trata no Brasil de economia fechada, como muitos vêm ponderando e estamos embarcando nessa onda; mas, não, o que falta ao nosso país é a melhora nos níveis de produtividade, e sem aumento de produtividade (crescimento econômico eficiente gerador de alterações na estrutura produtiva) não haverá nem inovação, nem sustentabilidade e nem garantia nas reservas internacionais, com exceção do setor primário exportador de commodities que mandou para rio abaixo os problemas das trocas desiguais, mas, hoje atropelado pelos custos desiguais, junto a inelasticidade de oferta de produtos primários.

Em arremate, teremos que ser mais que diplomatas, portanto, pragmáticos nas relações com os parceiros comerciais, mesmo porque, parece estar no topo das novas relações internacionais, a necessidade de um desenvolvimento engajado e alinhado com a democracia, a ciência (PD&I) e o livre-comércio para fortalecerem as vantagens institucionais globais para manter a paz necessária, evitando-se essa nova onda de mercantilismo, protecionismo, regionalismo, e, pior, colonialismo.

Ernani L. P. de Souza é economista do EIT/UFMT e Ex-vice-presidente do Corecon-MT (ernani.souza@ufmt.br)




quinta-feira, 10 de julho de 2025

 Resenha - AÇAÍ 30.


Autor – Ernani Lúcio Pinto de Souza, economista do EIT/UFMT, mestre em Planejamento do Desenvolvimento pela ANPEC/NAEA/UFPA com concentração dos estudos em Organização Industrial. (ernani.souza@ufmt.br)

Com a proximidade do evento do Clima, a COP 30 - Conferência das Partes (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Belém-PA, no Brasil, nada mais relevante que a leitura oportuna e obrigatória do tratado enciclopédico escrito pelo Professor Francisco de Assis Costa, o e-book (também impresso) "Economia e Território: Constituição e dinâmica da economia do açaí na região do Grão-Pará (1995-2011)",  sendo uma importante contribuição para o entendimento das dinâmicas econômicas e territoriais associadas à produção e comercialização do açaí na Amazônia, especialmente na região do Grão-Pará.

O livro resulta do esforço de trabalho e pesquisa desenvolvido pela equipe de pesquisadores que compõem o Grupo de Pesquisa Dinâmica Agrária e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia do NAEA durante o período de 2003 à 2017, com apoio do CNPq e da RedeSist-UFRJ.

O trabalho analisa detalhadamente como a cadeia produtiva do açaí se desenvolveu entre os anos de 1995 e 2011, período em que o fruto deixou de ser um alimento local (economia de subsistência) para se transformar em um importante produto econômico com crescente demanda nacional e internacional (economia de mercado global).

O autor, sustentado em sua visão holística e/ou interdisciplinar, se me permite afirmar, combina abordagens da economia regional, da sociologia e da geografia econômica para mostrar que o crescimento dessa economia não foi um processo apenas natural ou espontâneo, mas, resultado de interações complexas entre mercados locais, estratégias produtivas de agricultores e políticas públicas.

O professor Chiquito, assim chamado por todos estudantes de pós stricto sensu que passaram por sua mente, no âmbito do NAEA (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará), também discute como a expansão da produção de açaí interferiu nas relações sociais e no uso do território. Ele aponta as tensões entre o aumento da comercialização e o abastecimento local, gerando debates sobre segurança alimentar para as populações tradicionais que sempre consumiram o fruto como base alimentar.

Apropriado aqui mencionar que aumento de comercialização somente ocorre mediante geração de excedente, assim, vale indagar: como gerar excedente a partir do meio natural?

O estudioso atende essa provocação pontuando que o crescimento da demanda pelo açaí gerou impactos, tais como: melhoria na renda de produtores familiares; mudanças na organização do trabalho e na vida das comunidades; aumento da pressão sobre os recursos naturais e desafios de sustentabilidade, a partir de plantações de culturas comerciais do açaí.

Não obstante, parece não haver dúvida, de que os impactos mencionados foram determinantes para geração do excedente e ampliação da comercialização.

Se essa comercialização ainda necessita do mal necessário na figura do chamado atravessador ou patrãozinho, mais importante, será pensar em como estruturar infraestrutura de logística (armazenamento e transporte do açái 30). A propósito, de maneira eficiente e sustentável, nos termos da propalada infraestrutura verde.

Nutrido pelo açaí (30, sempre), pelo peixe e pelo seu conhecimento inabalável, o pesquisador não deixa por menos ao ponderar que programas de incentivo à produção familiar, assistência técnica e políticas territoriais contribuíram para a expansão do setor.

Expansão está, fundamentada no que o autor define como sendo oriunda da trajetória tecnológica camponesa (conhecimento empírico) e pela trajetória tecnológica agroflorestal (conhecimento científico).

Vale destacar que o estudioso enfatiza que o desenvolvimento econômico baseado no açaí não pode ser aceito apenas por variáveis produtivas e exportadora, mas, sim, pela análise em seu contexto territorial, de sustentabilidade e histórico, considerando os impactos  sociais e ambientais, sob o prisma da intensidade de carbono, que ele entende como sendo a relação entre o balanço líquido (emissão menos sequestro) de carbono e o valor da produção resultante da atividade da estrutura sob análise.

Nos finalmentes, o Doutor Chiquito evidencia que o açaí tornou-se símbolo das contradições amazônicas: ao mesmo tempo em que impulsiona a economia regional, produtividade a la Kaldor e gera renda, também levanta questões sobre sustentabilidade, justiça social e soberania alimentar, todavia, o pesquisador não abre mão de seu determinismo holístico, em vista de estarmos na fronteira do conhecimento em busca, quero raciocinar, por uma nova racionalidade.

Mesmo porque, o equilíbrio-dinâmico potencializa a sustentabilidade (que, também, não é estática) que permeia as intra e inter-relações do setor a partir do açaí campesino, dos coletores, comercialização in natura, batedores tradicionais até a indústria transformadora e agregadora de alto valor aos produtos e sub-produtos do açaizal.

Pelo Açaí 30: eficiente, sustentável, inclusivo e preservador (de cultura, história e desenvolvimento).

Referências de Suporte

- AMIN, Mário Miguel (In memorian). O extrativismo como fator de empobrecimento da economia do Estado do Pará. In: XIMENES, Tereza (Org.). Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável: uma contribuição para a Amazônia 21. Belém, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos / Associação de Universidades Amazônicas, 1997;

- COSTA, Francisco de Assis. As ciências, o Uso de Recursos Naturais na Amazônia e a Noção de Desenvolvimento Sustentável: por uma interdisciplinaridade ampla. Belém, UFPA/NAEA, 1996;

- FEARNSIDE, Philip M. Desmatamento e desenvolvimento agrícola na Amazônia. In: LÉNA, Philipe; OLIVEIRA, Adélia Engrácia de. Amazônia: a fronteira agrícola 20 anos depois. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 1992;

 

- NEPSTAD, Daniel C. Empobrecimento biológico da floresta amazônica por seringueiros, madeireiros e fazendeiros. In: XIMENES, Tereza (Org.). Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável: uma contribuição para a Amazônia 21. Belém, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/Associação de Universidades Amazônicas, 1997.

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Ernani Lucio Pinto de Souza.




quarta-feira, 9 de julho de 2025

 Brasileiros em Portugal: uma ponte entre culturas.


Nos últimos anos, Portugal tem se tornado um dos principais destinos de brasileiros que decidem emigrar. Segundo dados oficiais do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o número de brasileiros vivendo legalmente em Portugal ultrapassa os 400 mil — o que os torna a maior comunidade estrangeira do país. E esse número continua a crescer.

Os motivos para essa escolha são diversos: o idioma em comum, a herança cultural compartilhada, a segurança, a estabilidade econômica e a possibilidade de acesso à União Europeia. Muitos brasileiros chegam para estudar, trabalhar ou investir. Outros vêm em busca de uma nova vida, fugindo da violência ou da instabilidade no Brasil.

A recepção por parte dos portugueses é, em geral, positiva — embora não isenta de tensões. Há quem veja com bons olhos a presença brasileira, destacando a contribuição para a economia, especialmente nos setores de tecnologia, turismo, gastronomia, educação e saúde. Empreendedores brasileiros também movimentam o comércio local, abrindo negócios e gerando empregos. Culturalmente, a influência brasileira é visível na música, na culinária e nos eventos culturais, o que enriquece o cenário português.

Por outro lado, o aumento rápido da imigração também levanta preocupações, principalmente nas grandes cidades, onde há pressão sobre os serviços públicos, moradia e o mercado de trabalho. Em alguns casos, surgem críticas pontuais ou estereótipos, que revelam desafios de integração.

Pesquisas mostram que a maioria dos portugueses vê a imigração brasileira com naturalidade, embora ressaltem a importância de políticas públicas para garantir uma convivência equilibrada e respeitosa.

Em resumo, a presença brasileira em Portugal tem um impacto claro: fortalece laços históricos, dinamiza a economia e amplia o diálogo cultural entre os dois lados do Atlântico. A emigração brasileira não é apenas um movimento demográfico — é também uma oportunidade de troca e construção conjunta.

Ao amigo, Albet Yvin.