terça-feira, 26 de dezembro de 2023

 

Divido a íntegra do artigo do economista, Ernani Lucio Pinto de Souza, com os amigos da coluna.

TANGO ECONOMICO.

O Presidente eleito recentemente e empossado em 10 pp. na Argentina, será um bailarino ousado na condução da sua bailarina-parceira, a saber, a economia argentina.

Seus passos, parecem, que serão tão ousados quanto a dança tradicional e reconhecida mundo afora., o Tango.

Todavia, ousadia excessiva destoa a precisão, a estabilidade e a confiança, nessa clássica dança ou mesmo nessa decisão (macro) econômica que ele pretende implantar em seu país.

Verdade, que a música econômica na Argentina está fora do ritmo, com as notas do dinheiro local fora do tom em termos de poder de compra e sua elevada depreciação na paridade peso/dólar.

As causas dessa crise remontam ao que ALESINA e GIAVAZZY, já argumentavam desde 2002. Apesar da longa citação desses autores, não custa reproduzi-la: O ciclo típico – e a Argentina é um exemplo perfeito – começa quando a autoridade econômica permite que a inflação cresça durante algum tempo. Com isso, as receitas tributárias crescem enquanto o endividamento permanece estável. Mas, com o passar do tempo, as pessoas aprendem a viver com inflação elevada e isolam a economia de seus efeitos, reduzindo, assim, as receitas obtidas com o “imposto inflacionário”. Nesse ponto, as receitas governamentais começam a cair, os benefícios da inflação elevada desaparecem e o apoio político à estabilização se consolida.

A estabilização é normalmente seguida de uma breve lua-de-mel. Mas chega um momento em que, com a queda da inflação e a manutenção dos elevados níveis dos gastos públicos, a dívida começa novamente a crescer. Anuncia-se, então, uma nova crise. O câmbio é desvalorizado. Algumas dívidas deixam de ser pagas e taxas elevadas de inflação (é o imposto inflacionário) retornam duas coisas que ajudam a equilibrar o orçamento.

A longo da década de 1990, a Argentina tentou atar suas próprias mãos para impedir a adoção desse tipo de políticas mediante a adoção de um “currency board” (sistema de paridade cambial com o dólar americano). Hoje, esse regime é ridicularizado, mas foi uma ideia inteligente. Se o orçamento argentino estivesse realmente equilibrado, o “currency board” teria funcionado. Mas a Argentina nunca equilibrou seu orçamento, excluídos os pagamentos de juros sobre sua dívida.

Importante repisar na questão da inflação, quando os argentinos cansaram de correr aos supermercados em busca de suprimentos básicos em elevação diária, substituíram em grande monta o peso pelo dólar, daí, talvez, a ideia do atual presidente em dolarizar a economia argentina.

Todavia, das medidas anunciadas na terça-feira passada, tratam especificamente da reconfiguração do estado argentino, particularmente, no que tange ao tamanho do setor público naquela economia.

Portanto, conforme circulado na imprensa/mídia nacional aqui pelo Brasil, o ministro da economia indicado pelo presidente argentino é totalmente contrário à ideia de dolarização.

Ouso inferir que país sem moeda é país sem identidade, e para fazer política monetária sem um banco central autônomo e próprio é tão difícil quanto a própria história dos bancos centrais pelo mundo, conforme historiógrafa CARVALHO, (2015).

Em suma e na essência: el camino és uno: como medida já anunciada, necessário, sim, reconfigurar o estado argentino (política fiscal parcial), para iniciar um novo rearranjo com a responsabilidade fiscal em sintonia com a política monetária, porque a tática de aumentar receita com a inflação e aumentar gastos (normalmente, populistas) ficará sempre impossível de proporcionar estímulo fiscal em momentos difíceis como o atual, além de enfrentar problemas estruturais de longo tempo que afetam a renda, investimentos consolidados, e novos investimentos, principalmente, os investimentos verdes na promissora região de Vaca Muerta.

Finalizando e lembrando Carlos Gardel, los hermanos aguardam ansiosamente pelo El día que mi queras..., dolare(blue) ou el peso fuerte.

Ernani Lúcio Pinto de Souza, 61, cuiabano, economista da UFMT junto ao Escritório de Inovação Tecnológica. Participou de programas de capacitação e pós-graduação patrocinados pela UFMT junto ao Programa MEC/BID III e ANPEC/NAEA/UFPA. Foi vice-presidente do CORECON-MT.(elpz@uol.com.br)


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