O RESULTADO PRÁTICO DA INVESTIGAÇÃO DE FAKE NEWS VAI SER TRÊS VEZES ZERO.
Por Jose Roberto Guzzo.
A questão é o clima tóxico que se estimula no
Brasil por força da crescente incerteza sobre o que é legal e o que é ilegal
neste País
O Supremo Tribunal
Federal, como se sabe, abriu em março do ano passado uma
investigação para apurar possíveis delitos – e os culpados por eles – na
divulgação de “fake news”, ou notícias falsas, que têm ou teriam ocorrido
contra o próprio STF, seus integrantes e membros de suas famílias. É uma dessas
coisas que começou no escuro e caminha em direção ao escuro. Sua manifestação
mais ruidosa acaba de acontecer com a realização de cerca de 30 buscas e
apreensões, executadas por agentes da PF numa inédita missão a serviço do
Supremo, na manhã desta quarta-feira, 27. Os alvos foram editores de blogs
pró-governo e anti-STF, indivíduos diversos e oito deputados no exercício dos
seus mandatos, seis deles federais. Pode isso?
Não foi uma decisão dos 11 ministros que compõem o
plenário do tribunal. Quem resolveu assim foi o presidente do STF, Dias Toffoli –
e, desde o início o
Ministério Público, a quem cabe segundo a lei brasileira a
exclusividade pela condução de inquéritos criminais e o eventual oferecimento
de denúncias à Justiça, foi contra. O STF, segundo entendia o MP de então, não
tinha o direito de abrir e operar uma investigação de crimes supostamente
cometidos contra ele mesmo – ou, na verdade, contra ninguém. Muitos dos mais
respeitados juristas brasileiros têm exatamente a mesma posição. Mas por uma
dessas coisas que tornam o Brasil, com frequência, um país incompreensível, a
Procuradoria-Geral da República mudou de opinião e começou a achar que o
procedimento era legal, sim, desde que o presidente Jair Bolsonaro nomeou o novo e atual chefe, Augusto Aras. Como Assim?
A PGR, que era contra, passou a ser a favor de uma operação de
legalidade intensamente duvidosa que reprime os grandes amigos do governo
Bolsonaro? Pois assim está.
O ministro Luís Roberto
Barroso tinha dito, justamente dois dias antes, que o STF é quem
garante a manutenção da democracia no Brasil, e que as críticas a ele são
livres – o que não se pode é deixar de cumprir as suas decisões.
Onde se encaixa, então, o rapa de hoje?? Se as críticas são realmente livres,
por que as apreensões de celulares e outros atos de repressão contra editores
de blogs e, mais que isso, seis deputados federais, que fazem parte de um Poder
independente? Por que, dentro deste mesmo inquérito, o ministro Alexandre Moraes censurou
o site O Antagonista e a sua revista digital Crusoé? Independente
da opinião do atual PGR, qual a lei brasileira que permite ao STF abrir e
conduzir diretamente uma investigação criminal? Onde está escrito que delegados
e agentes de polícia passem a obedecer a ordens de um ministro e saiam por aí
apreendendo celulares, entrando em residências e convocando para depor pessoas
que não são acusadas oficialmente de nenhum crime pelo Ministério Público
– inclusive parlamentares com imunidades constitucionais perante os dois
outros poderes? É legal fazer um inquérito que não tem um fato determinado a
apurar, nem indiciados?
O resultado prático de todo esse som e fúria vai
ser três vezes zero: ninguém vai para a cadeia, nenhum deputado será
cassado e não haverá órgãos de imprensa proibidos de funcionar. A questão é o
clima tóxico que se estimula no Brasil por força da crescente incerteza sobre o
que é legal e o que é ilegal neste País
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