sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

LIÇÕES NÃO APRENDIDAS.


A GENTE NÃO APRENDE NUNCA.

Lendo, “1808”( Editora Planeta), do historiador Laurentino Gomes, aprendemos que, apesar de tudo o que ele nos conta, a gente não aprendeu nada. Há um capítulo, lá pelas páginas 188/196, intitulado coerentemente, O Ataque ao Cofre, que é bem  parecido com o que vemos hoje.

 Gomes nos conta que: “A corte chegou ao Brasil destituída, empobrecida e necessitada de tudo. Já estava falida quando deixara Lisboa, mas a situação se agravou mais ainda no Rio de Janeiro. Deve-se lembrar que entre 10000 e 15000 portugueses atravessaram o Atlântico junto com D. João.”

Talvez seja por isso mesmo que hoje temos 12.5 milhões de funcionários públicos consumindo quase todo o orçamento em salários, aposentadorias e outros impublicáveis privilégios. Mestre Laurentino compara com o que se viu em outro país à mesma época.

 Ele diz: “para se ter uma ideia do isso significava, basta se levar em conta que, ao mudar a sede do governo dos Estados Unidos da Filadélfia para a recém-construída Washington, em 1800, o presidente John Adams transferiu para a nova capital cerca de 1 000 funcionários. Ou seja, a corte portuguesa no Brasil era entre 10 e 15 vezes mais gorda do que a máquina americana nessa época. ” O historiador, John Armitage, citado por Laurentino Gomes, anotou que:

“Os novos hóspedes pouco se interessavam pela prosperidade do Brasil. Consideravam temporária a sua ausência de Portugal e propunham-se mais a enriquecer-se à custo do Estado do que a administrar a justiça ou a beneficiar o público”

Com as exceções de praxe, os novos hóspedes (parlamentares), em sua temporária presença congresso, se propõem a enriquecer-se à custo do Estado, ou não? Ao examinarmos, nos dias de hoje, a quantidade de servidores, para atender aos três poderes, e as mordomias que usufruem, somos forçados a comparar com a moçada lá dos anos 1.800. Laurentino cita o historiador Luiz Felipe Alencastro, que diz que:

“além da família, vieram 276 fidalgos e dignitários régios que recebiam em moeda de ouro e prata retiradas do tesouro real do Rio de Janeiro. Com base nos relatos do inglês John Luccock, Alencastro acrescenta a esses números mais de 2000 funcionários reais e indivíduos exercendo funções relacionadas à Coroa, setecentos padres, quinhentos advogados, duzentos praticantes de medicina e entre 4000 e 5000 militares”

A conclusão é que não mudamos nada. A máquina burocrática do governo nasceu inchada e, de lá pra cá, só fez piorar. Quando o atual STF manda comprar vinhos, camarões, lagostas e champanhe premiados, somos levados ao texto. Conforme Gomes: “Era uma corte perdulária e voraz. Em 1820, consumia 513 galinhas, frangos pombos e perus e 90 dúzias de ovos por dia. Eram quase 200 000 aves e 33 000 dúzias de ovos por ano, que custavam cerca de 900 contos de réis ou quase 50 milhões de reais em dinheiro atual”

Para os que pensam que irresponsabilidade fiscal e corrupção é coisa de agora, vale acompanhar o texto. O autor afirma que “Nos treze anos em que D. João viveu no Brasil, as despesas da mal administrada e corrupta Ucharia Real mais do que triplicou. O déficit crescia sem parar. No último ano, 1821, o buraco do orçamento tinha aumentado mais de vinte vezes – de 10 contos de réis para 239 contos de réis. Apesar disso, a corte continuou a bancar todo mundo sem se preocupar com a origem dos recursos.”

Impressionante a semelhança com os tempos atuais. Em outro post, vamos seguir mostrando o Brasil de ontem e sua semelhança com os tempos de agora. Pobres de nós.

Extraído do livro: 1808 (Editora Planeta), de Laurentino Gomes.

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