Resenha - AÇAÍ 30.
Autor – Ernani
Lúcio Pinto de Souza, economista do EIT/UFMT, mestre em Planejamento do Desenvolvimento
pela ANPEC/NAEA/UFPA com concentração dos estudos em Organização Industrial. (ernani.souza@ufmt.br)
Com a proximidade do evento do Clima, a COP 30 -
Conferência das Partes (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas), em Belém-PA, no Brasil, nada mais relevante que a leitura oportuna
e obrigatória do tratado enciclopédico escrito pelo Professor Francisco de
Assis Costa, o e-book
(também impresso) "Economia e Território:
Constituição e dinâmica da economia do açaí na região do Grão-Pará
(1995-2011)", sendo uma
importante contribuição para o entendimento das dinâmicas econômicas e
territoriais associadas à produção e comercialização do açaí na Amazônia,
especialmente na região do Grão-Pará.
O
livro resulta do esforço de trabalho e pesquisa desenvolvido pela equipe de
pesquisadores que compõem o Grupo de Pesquisa Dinâmica Agrária e
Desenvolvimento Sustentável na Amazônia do NAEA durante o período de 2003 à
2017, com apoio do CNPq e da RedeSist-UFRJ.
O trabalho analisa detalhadamente como a cadeia produtiva do
açaí se desenvolveu entre os anos de 1995 e 2011, período em que o fruto deixou
de ser um alimento local (economia de
subsistência) para se transformar em um importante produto
econômico com crescente demanda nacional e internacional (economia de mercado global).
O
autor, sustentado em sua visão holística e/ou
interdisciplinar, se me permite afirmar,
combina abordagens da economia regional, da sociologia e da geografia econômica
para mostrar que o crescimento dessa economia não foi um processo apenas
natural ou espontâneo, mas,
resultado de interações complexas entre mercados locais, estratégias produtivas
de agricultores e políticas públicas.
O professor Chiquito, assim chamado por todos
estudantes de pós stricto sensu que
passaram por sua mente, no âmbito do NAEA (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
da Universidade Federal do Pará), também discute como a
expansão da produção de açaí interferiu nas relações sociais e no uso do
território. Ele aponta as tensões entre o aumento da comercialização e o
abastecimento local, gerando debates sobre segurança alimentar para as
populações tradicionais que sempre consumiram o fruto como base alimentar.
Apropriado aqui mencionar que aumento de
comercialização somente ocorre mediante geração de excedente, assim, vale
indagar: como gerar excedente a partir do meio natural?
O estudioso atende essa provocação pontuando que o
crescimento da demanda pelo açaí gerou impactos,
tais como: melhoria na renda de produtores familiares; mudanças na organização do
trabalho e na vida das comunidades; aumento
da pressão sobre os recursos naturais e desafios de sustentabilidade, a partir de plantações de culturas comerciais do
açaí.
Não obstante, parece não haver dúvida, de que os
impactos mencionados foram determinantes para geração do excedente e ampliação
da comercialização.
Se essa comercialização ainda necessita do mal
necessário na figura do chamado atravessador ou patrãozinho, mais importante,
será pensar em como estruturar infraestrutura de logística (armazenamento e
transporte do açái 30). A propósito, de maneira eficiente e sustentável, nos
termos da propalada infraestrutura verde.
Nutrido pelo açaí (30, sempre), pelo peixe e pelo seu
conhecimento inabalável, o pesquisador não deixa por menos ao ponderar que programas
de incentivo à produção familiar, assistência técnica e políticas territoriais
contribuíram para a expansão do setor.
Expansão está, fundamentada no que
o autor define como sendo oriunda da trajetória tecnológica camponesa (conhecimento empírico) e pela trajetória tecnológica agroflorestal
(conhecimento científico).
Vale destacar que o estudioso enfatiza que o
desenvolvimento econômico baseado no açaí não pode ser aceito apenas por variáveis produtivas e exportadora,
mas, sim, pela análise
em seu contexto territorial, de
sustentabilidade e histórico, considerando os impactos sociais e ambientais, sob o prisma da intensidade de
carbono, que ele entende como sendo a relação entre o balanço líquido (emissão menos sequestro) de carbono e
o valor da produção resultante da atividade da estrutura sob análise.
Nos finalmentes, o Doutor Chiquito evidencia
que o açaí tornou-se símbolo das contradições amazônicas: ao mesmo tempo em que
impulsiona a economia regional, produtividade a
la Kaldor e gera renda, também levanta questões sobre
sustentabilidade, justiça social e soberania alimentar, todavia, o pesquisador não abre mão de seu determinismo
holístico, em vista de estarmos na fronteira do conhecimento em busca, quero
raciocinar, por uma nova racionalidade.
Mesmo porque, o equilíbrio-dinâmico potencializa a
sustentabilidade (que, também, não é estática) que permeia as intra e
inter-relações do setor a partir do açaí campesino, dos coletores,
comercialização in natura, batedores
tradicionais até a indústria transformadora e agregadora de alto valor aos
produtos e sub-produtos do açaizal.
Pelo Açaí 30: eficiente, sustentável, inclusivo e
preservador (de cultura, história e desenvolvimento).
Referências de Suporte
- AMIN, Mário Miguel
(In memorian). O extrativismo como fator de
empobrecimento da economia do Estado do Pará. In: XIMENES, Tereza (Org.). Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável:
uma contribuição para a Amazônia 21.
Belém, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos / Associação de Universidades
Amazônicas, 1997;
- COSTA, Francisco
de Assis. As
ciências, o Uso de Recursos Naturais na Amazônia e a Noção de Desenvolvimento
Sustentável: por
uma interdisciplinaridade ampla. Belém, UFPA/NAEA, 1996;
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FEARNSIDE, Philip M. Desmatamento e desenvolvimento
agrícola na Amazônia. In: LÉNA, Philipe; OLIVEIRA, Adélia Engrácia de. Amazônia: a fronteira agrícola 20 anos
depois. Belém, Museu Paraense
Emílio Goeldi, 1992;
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NEPSTAD, Daniel C. Empobrecimento biológico da floresta
amazônica por seringueiros, madeireiros e fazendeiros. In: XIMENES, Tereza
(Org.). Perspectivas do Desenvolvimento
Sustentável: uma contribuição para a
Amazônia 21. Belém, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/Associação de
Universidades Amazônicas, 1997.
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Ernani Lucio Pinto de Souza.