OLAVO DE CARVALHO SOBRE JOSÉ DIRCEU.
Em seu livro, O Imbecil
Coletivo, o filósofo Olavo de Carvalho produziu um texto sobre petista e
ex-deputado, José Dirceu. Como ele voltou a nos ameaçar, com a candidatura ao
parlamento, reproduzo-o, aos amigos da
coluna.
Fala Olavo:
Aproveito a ocasião para assinalar, de passagem, o cinismo com que o Deputado José Dirceu pretende varrer para baixo do tapete o assassinato de Márcio Toledo, alegando que se trata de episódio “já esclarecido” e procurando detectar obscuros interesses políticos por trás de uma reportagem cujo interesse jornalístico é óbvio em si mesmo e não requer outras e mais rebuscadas explicações. Por que, ante os crimes da ditadura, a esquerda não se contenta com “esclarecê-los”, mas pretende que tenham consequências jurídicas de longo prazo, enquanto no que se refere aos crimes da esquerda basta o “esclarecimento” para apaziguar uma consciência bem pouco exigente? O que não está esclarecido é o que um espião de país estrangeiro está fazendo no Congresso Nacional, quando devia estar é na lata de lixo das traições “já esclarecidas”.
José Dirceu é um sujeito capaz de tentar enganar a opinião pública com a mentirinha boba de que nunca trabalhou para Cuba, de que ficou no Brasil, andando inocentemente pelas ruas com um nariz adunco fabricado por um cirurgião plástico que depois lhe devolveu intacto o narizinho arrebitado originário. Como todo mentiroso, ele tem a alma carregada de suspeitas e enxerga intenções malignas por toda parte, de maneira ferozmente projetiva, ao mesmo tempo que é incapaz de sentir vergonha ou arrependimento por qualquer atrocidade que seja politicamente útil à sua facção ideológica. Nunca se deve esquecer que, para a mentalidade forjada no marxismo, não existe maldade moral, crime, pecado. Existem apenas “erros políticos”, dos quais se arrepende — quando chega a fazê-lo — não por admitir que são atos intrinsecamente maus, mas por não terem dado os resultados vantajosos que deles esperava. Também não corresponde aos fatos a imagem de idealismo romântico que se quer lançar retroativamente sobre os guerrilheiros. A ojeriza a todo arrebatamento romântico, o cultivo do cerebralismo maquiavélico é um mandamento, um ponto de honra e um hábito consagrado das organizações marxistas.
Pertenci à ala marighelista do PCB, assisti de perto à preparação do
que viria a ser o movimento guerrilheiro, e nunca vi lá dentro, exceto na
arraia miúda desprezada como “massa de manobra”, o menor sinal de romantismo ou
idealismo. O que vi foi apenas uma indignação fanática que o treinamento
acabava por transformar em ódio frio e em absoluta incapacidade para enxergar
qualquer coisa de humano no rosto do adversário, sempre reduzido a uma
caricatura monstruosa. Muitos militantes acabaram por assimilar definitivamente
esses traços à sua personalidade. É precisamente o caso de José Dirceu, cuja oratória
tem, até hoje, aquela típica “eloquência canina” do acusador compulsivo.
Olavo de Carvalho.