SEM DEFESA.
Por Jose Roberto Guzzo.
Democracias, para existirem de verdade, têm de merecer a própria existência. Não basta escrever uma Constituição com 250 artigos (e mais de 100 emendas, desde que passou a valer em 1988), e declarar que o Brasil, por exemplo, é uma democracia na qual o poder pertence ao povo. Não basta afirmar que os direitos e deveres do cidadão são estes e mais aqueles, dizer que no Brasil há Três Poderes “separados e harmônicos” e jurar que isso aqui é um “estado de direito”. Não basta, em suma, fazer um desenho mostrando como o país deve funcionar.
Uma democracia, para sobreviver,
precisa antes de tudo que os cidadãos a defendam – e eles só vão defender o
sistema democrático se estiverem convencidos de que há razões claras para fazer
isso, ou seja, se julgarem que as instituições merecem realmente ser
defendidas. No caso do Brasil, pouca gente acha que essa pasta que está aí
merece algum tipo de defesa. Porque haveria de merecer, quando se olha o que os
donos da nossa democracia fazem no seu dia a dia? Todo mundo já cansou de ouvir
que as “instituições” são uma coisa, e as “pessoas” são outra. Pode até ser
assim no mundo das ideias. No mundo das coisas reais não é.
Se a conduta pública e objetiva das
pessoas que operam o sistema democrático é um insulto diário ao cidadão, não
adianta ler para ele um tratado de ciência política escrito na Sorbonne. O
sujeito simplesmente perde o interesse na coisa toda. Quando acha, depois de
anos a fio de desapontamento, que não recebe nada de útil da democracia, também
não vai dar nada por ela. O Brasil está assim já há um bom tempo. Sempre vão
dizer, é claro, que “o povo brasileiro” não permitirá “nenhuma ruptura com as
instituições”. Mas alguém acha, a sério, que a população irá para a rua
defender esses deputados, senadores e ministros do Supremo que estão aí?
O fato, que ninguém gosta de comentar, é que as Forças Armadas, hoje em dia, são a única garantia efetiva
que o Congresso, o STF e o resto das instituições têm para permanecerem
em funcionamento. Tomara que continuem assim, porque a maioria dos brasileiros,
neste lamentável ano de 2020, não daria nem uma volta no quarteirão para salvar
a democracia que sustenta com seus impostos. Pelo contrário, quem se dispõe a
ir para a praça pública tem feito exatamente o contrário: pede o fechamento de
tudo.
Qual a surpresa, aí? Vivemos num país em que 55.000 indivíduos se
beneficiam de uma aberração, inédita no mundo, chamada “foro privilegiado” – ou
seja, a lei brasileira diz, com todas as letras, que essa gente tem mais
direitos que os outros 200 milhões de brasileiros. Não podem, simplesmente, ser
julgados perante a Justiça comum pelos crimes que cometem. Um projeto para
suprimir esse privilégio está parado há 500 dias na Câmara dos Deputados; não é colocado em votação, simplesmente.
A nova lei para o saneamento básico, que permitiria às empresas privadas
investirem num setor onde 50% das pessoas não tem esgoto, não vai adiante. Os
políticos querem manter as estatais que mandam na área, e continuar pedindo
verbas para elas; se o problema for resolvido, as verbas param.
O STF, onde há
ministros que conduzem inquéritos criminais secretos, censuram órgãos de
imprensa ou absolvem donos de empresas de ônibus que roubam o erário, impõe ao
País um estado de insegurança jurídica permanente; está destruindo a
possibilidade de se prever o que é certo e o que é errado. O poder executivo
manda sua polícia agredir cidadãos, algemar mulheres e prender crianças, com a
cumplicidade do legislativo, do Ministério Público e da Justiça, a por aí se vai. Que
defesa isso tudo merece?
Faltou citar as beiradas de um presidente sem noção
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